domingo, 26 de junho de 2011

O Currículo no 1º Ano

         Pensar o currículo do 1º Ano do Ensino Fundamental (EF) de 09 anos é algo imprescindível para qualquer escola ao ingressar neste novo sistema, porém não é o que tem sido visto na prática.
         É preciso repensar os princípios, o que se deseja fazer com aquela criança que só tem 06 anos, mas participará do Ensino Fundamental. Uma vez que ela tem suas características, precisa que o local seja adaptado às suas necessidades; e outrora estaria na Educação Infantil onde imperam o cuidar, o educar e o brincar, sendo este último o que orienta as práticas a serem desenvolvidas.
         As especificidades destes pequenos não podem ser delegadas a segundo plano. Elas são o que farão com que a criança de 6 anos seja atendida em sua plenitude. Contudo, o apressamento da implantação deste novo sistema não permitiu a sua reorganização por inteiro, ou seja, num todo. E o pensar sobre a real função do 1º Ano não existiu. Vale agora, enquanto educadores, nos colocarmos a disposição para refletirmos sobre as implicações da nova criança que fará, digo, faz parte do sistema formal obrigatório de ensino. Buscarmos propostas que realmente as levem ao letramento "[...] aos comportamentos leitores, de ter prazer com a língua, de pensar (RIZEK, 2009)" e não focando somente na aquisição do código.
         Ainda segundo Karina Rizek "[...] tentar mudar, não o currículo apenas, mas o olhar de para se entender melhor quem é esta criança, desta faixa etária, que características ela tem." Fugindo da criança da literatura e buscando a criança sujeito de direito.
         Para instigar mais a referida questão, sugiro que vejam primeiramente o vídeo: Ensino Fundamental de 9 ano, um podcats com as formadoras Karina Rizek, da Escola de Educadores e Beatriz Ferraz, do Cedac, em que a primeira fala sobre a análise que ela e Beatriz fizeram da analise de 15 matrículas curriculares de língua Portuguesa e Matemática para o 1º Ano.

Ensino Fundamental de 9 anos

         Karina Rizek ao falar da análise das 15 matrizes curriculares para o 1º ano do Ensino Fundamental de 9 anos feitas por ela e Beatriz Ferraz, demonstram um panorama de antecipação da realidade da antiga 1ª Série para o 1º Ano, trazem aspectos muito além da capacidade das crianças; focam na aquisição do código e deixam de lado as perspectivas do letramento, sendo que estes pontos é que deveriam ser a preocupação deste ano inicial do EF.
         Os objetivos e conteúdos não contemplam a criança de direito, aquela que tem características específicas, e tão pouco os comportamentos de leitores. Diz que a maioria das propostas curriculares analisadas não contemplam tal criança e apresentam as propostas de Rio Branco-AC, São Luís-MA e São Paulo-SP como as que mais se preocupam com esta; vão além de uma simples grade curricular, trazem módulos, livros de professor, sugestão de atividades, discussão de como se constrói uma rotina e de como se organiza o tempo, e de quem é essa criança, ou seja, buscam coisas importantes da Educação infantil para este novo início de alfabetização.
         E, assim fica evidente que a transposição do sistema de 08 para 09 anos não deveria ter sido de forma aligeirada. Deveriam ter existidos discussões em contextos e que estas teriam que ter sido feitas com todos os educadores, já que a mudança não afeta somente o 1º Ano, início da alfabetização.
         Rizek, fala que as possíveis falhas vão desde a criação da lei até sua implantação em 2010. Rememora que é preciso pensar a mesma questão que aconteceu com o Ensino Fundamental, na LDB de 1996. Diz que os sistemas deveriam ter aproveitado o prazo de 5 anos para se pensar nesta mudança e depois fazê-la, mas que isto não aconteceu. Que era preciso de equipe quantitativa e qualitativa, mas que nós não temos no Brasil. As propostas não deveriam ter vindo de cima para baixo e que as equipes pedagógicas deveriam promover tais discussões, pois o que precisava ser reorganizado não era somente o currículo do 1º Ano, mas tudo; todo o sistema de 9 anos.
         Segundo Amélia Hanze "No do Ensino Fundamental de 09 anos, o objetivo é assegurar a todas as crianças um tempo maior de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem com mais qualidade".
         Registramos tais falas pela importância que elas tem. Inserir uma criança aos 06 anos no Ensino Fundamental exige muita cautela. Necessita de um olhar direcionado as suas especificidades, a fase do desenvolvimento em que ela se encontro. O entendimento precisa perpassar pelas suas necessidade enquanto sujeito em crescimento. As propostas curriculares devem se debruçar sobre conteúdos e objetivos que a contemplem. As práticas devem ter clarezas que o 1º Ano não é uma antecipação das práticas da antiga 1ª Série tão pouco um recorte da última etapa da Educação Infantil (em alguns estados denominadas de "classes de alfabetização").
         As atividades precisam ser propostas tendo como pano de fundo o Alfabetizar Letrando. O planejamento precisa ser realizado entendendo que alfabetização no contexto atual é um processo. Por isso, os planos do 1º ao 3º Ano do Ensino Fundamental devem ser coesos, construídos a seis mãos*. Deve-se haver uma continuidade entre o que se faz no 1º até o 3º Ano; o trabalho precisa ser realizado de forma continua. As atividades precisam falar entre si.

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* desculpe-me o uso da expressão: a seis mãos, mas ela sempre me remete ao ensino de piano e, para mim, esta é uma atividade que precisa de muita afinidade para ser realizada.
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Para saber mais, leia as propostas curriculares de Rio Branco, São Luís e São Paulo:

Orientações Para o Ensino de Língua Portuguesa e Matemática no Ciclo Inicial. Rio Branco-AC, 2008. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-fundamental/matriz_acre_riobranco.pdf.

Caderno do 1º Ciclo: ensino fundamental. São Luís-MA, 2009. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-fundamental/matriz_sao_luis.pdf.

Versão preliminar para apreciação da rede pública estadual: 1º Ano do Ciclo I - Ensino Fundamental - expectativas de aprendizagem. São Paulo: 2008. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-fundamental/matriz_curricular_SP_introd.pdf.

Proposta: disciplinas. São Paulo: 2008. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-fundamental/matriz_curricular_SP_disciplinas.pdf.

Para saber mais, leia:
SOARES, MAGDA. Alfabetização e Letramento: caminhos e descaminhos. Disponível em:  http://pt.scribd.com/doc/18892732/Artigo-Alfabetizacao-e-Letramento-Magda-Soares1.

Referências:
HANZE, Amélia. As Legislações do Ensino Fundamental de Nove Anos. Disponível em:  http://educador.brasilescola.com/politica-educacional/ensino-fundamental-de-nove-anos.htm.

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